ENCONTROS DO TCC


Jornalismo: a melhor profissão do mundo

Posted in Uncategorized por sanatielli1 em 04/03/2010
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Peço licença aos demais leitores desse blog, em sua maioria alunos de diversos cursos de diferentes faculdades do Brasil, para dedicar um post aos estudantes de Jornalismo do país, que no ano passado, assim como eu, ficaram chocados com a notícia da não-obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão.

Afinal, qualquer pessoa pode ser realmente um jornalista?

E, mais uma vez, acompanhando as publicações do Diretório Acadêmico do Observatório da Imprensa, encontrei um artigo de Fernando Evangelista, professor da Faculdade Estácio de Sá, de Santa Catarina, que na verdade, foi um discurso feito durante a cerimônia de colação de grau da turma de formandos de Jornalismo, em fevereiro desse ano.

Fernando Evangelista fala um pouco sobre os desafios da profissão e sobre a paixão que deve permear o profissional da notícia, além da ética e da necessidade da busca pela verdade: “usem esta profissão – seja como repórteres, editores, blogueiros, assessores de imprensa, diagramadores, fotógrafos, pesquisadores, seja em que área do jornalismo for, para fazer luz sobre o nosso mundo. Façam que o jornalismo seja sempre um caminho para que se contem as histórias que precisam ser contadas”.

O artigo completo está disponível no site do Observatório da Imprensa, em sua seção Diretório Acadêmico, publicado 02/03/2010: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=579DAC001

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Para que serve o jornalismo?

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Qual o significado de ser jornalista nos dias atuais? Para que serve o jornalismo no país em que vivemos? Qual é, afinal de contas, a missão que temos como jornalistas?

Que me desculpem os profissionais das outras áreas, mas o escritor Gabriel García Márquez tem razão: “O jornalismo é a melhor profissão do mundo.” Para quem é curioso, inquieto, para quem gosta de ouvir e contar boas histórias, para quem se interessa pelas coisas da vida, não existe profissão mais fascinante.

Mais do que um diploma, hoje vocês recebem um passaporte para o mundo.

O passaporte para revelar histórias não contadas, para contar histórias esquecidas, para investigar, para descobrir aquilo que à primeira vista ou à vista da maioria parece banal, mas que pode ser algo extraordinário. O jornalismo, não se esqueçam disto, nos dá a possibilidade de denunciar o que está errado e de anunciar o que pode ser.

Tomar posição

E não é possível fazer isso sem ética – palavra tantas vezes usada sem distinção e sem critério, tão citada em discursos e tão esquecida na prática do cotidiano. Lembrem-se: a ética não é apenas um conceito filosófico, mas uma postura de vida. Ela exige que, desde já, vocês estejam dispostos a não abrir mão, em hipótese nenhuma, daquilo que Carl Bernstein, um dos repórteres do Caso Watergate, chamou de “a melhor versão possível da verdade”.

Como vocês sabem, esta busca pela melhor versão possível da verdade pressupõe persistência e coragem. É, obviamente, um percurso complicado, com obstáculos dos mais diversos, mas também muito gratificante.

Se me permitem algumas dicas, não sigam pelo caminho mais fácil ou mais cômodo; sigam o caminho que considerarem ser o mais justo, sempre; não se deixem seduzir pelo poder, não se deixem contaminar pela arrogância; não confundam equilíbrio com indiferença, nem ceticismo com cinismo; ser ético é tomar posição.

Tomar posição não significa ver o mundo entre bons e maus, de forma maniqueísta. Pelo contrário, significa ir à raiz, saber contextualizar cada história e explicá-la de forma coerente e clara. Tomar posição é conhecer bem o chão que estamos pisando, para que as falsas aparências não nos enganem ou nos confundam. Tomar posição é estar encharcado de realidade.

Um exemplo emblemático

E o nosso mundo, onde quase dois bilhões de seres humanos vivem privados dos direitos mais elementares, não deixa espaço para ilusões. O Brasil, apesar de alguns avanços nas últimas décadas, ainda é a terra da desigualdade, fruto da indecente concentração de riqueza e de renda. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 10% dos brasileiros mais ricos detêm 43% da riqueza nacional, enquanto os 10% mais pobres, apenas 1%.

Tomar posição é, entre outras coisas, revelar essa realidade, quase sempre mascarada por números e estatísticas, às vezes equivocados, às vezes precisos, mas sempre frios e distantes. Essa realidade tem nome e sobrenome, tem história. E não é natural. Essa é a missão do jornalista, esse é o grande desafio: Mostrar aquilo que as vozes oficiais tentam camuflar, fiscalizando o poder, seja ele qual for.

Infelizmente, há muito tempo, a mídia deixou de ser o quarto poder para, em muitos casos, se tornar um quarto no poder. Hoje, como vocês sabem, os principais poderes são o econômico, o político e o midiático – cada vez mais enredados um no outro. Santa Catarina é um exemplo emblemático, onde os principais veículos de comunicação estão nas mãos de uma única empresa, o que fere a Constituição, elimina a pluralidade de ideias e enfraquece a democracia.

(…)

A paixão é o segredo

Então, como professor, como repórter, como alguém que já vivenciou uma injustiça por parte da imprensa, eu digo a vocês: jornalismo é a melhor profissão do mundo, mas não sejam ingênuos, investiguem sempre, não briguem com os fatos, duvidem, chequem as informações várias vezes e tenham sempre, sempre em mente, que vocês estão lidando com a vida e a história de outras pessoas.

Caros formandos, caros colegas: usem esta profissão – seja como repórteres, editores, blogueiros, assessores de imprensa, diagramadores, fotógrafos, pesquisadores, seja em que área do jornalismo for, para fazer luz sobre o nosso mundo. Façam que o jornalismo seja sempre um caminho para que se contem as histórias que precisam ser contadas.

E, mais importante de tudo, façam isso com paixão porque é este o segredo dos trabalhos bem feitos e dos profissionais bem-sucedidos. É a paixão que faz com que a gente ouse, desafie as probabilidades, surpreenda o mundo. É a paixão que fará, um dia, quando vocês estiverem bem velhinhos, dizer que tudo isso, a escolha desta profissão, esta vida inteira, valeu a pena.

Fernando Evangelista

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